É sabido que escritores, poetas, músicos e artistas de forma geral são seres dotados de uma sensibilidade fora do comum. Razão que os tornam pessoas excepcionais no que fazem; que conseguem transpor, brilhantemente através da sua arte, sentimentos e emoções que a maioria de nós, reles mortais, não conseguiria. Porém, estudos comprovam que tais pessoas, em especial os escritores, são mais vulneráveis a problemas como depressão, alcoolismo e drogas e, consequentemente, ao suicídio.
É de se notar que muitos escritores e poetas deixam em suas obras rastros de uma alma atormentada. Muitos se escondem por trás de suas criações literárias para assim, expor de forma mais velada (ou não) suas crises existenciais, seus problemas pessoais e a forte e íntima relação com a morte. Porém, o mesmo mal que os assola parece ser o mesmo que os inspira em suas obras, publicando romances ímpares que deixaram seu legado na literatura e marcas em nós leitores que, apesar do trágico fim que os mesmos decidem tomar, continuam influenciando nossa forma de viver e pensar.
Por isso, listamos onze escritores famosos que encontraram no suicídio a solução para o fim de seus tormentos:
- Virginia Woolf (1882 – 1941)
Uma das mais importantes representantes do modernismo literário, a inglesa Virginia Woolf ficou mundialmente conhecida pela técnica narrativa inovadora do fluxo de consciência, empregada em obras como Mrs. Dalloway, Orlando e Ao Farol. De grande influência na sociedade de sua época, Virginia era considerada a maior romancista lírica de língua inglesa. Diagnosticada como portadora de doença maníaco-depressiva (também conhecido como transtorno bipolar), causada possivelmente por abusos sofridos na infância, Virginia – após deixar uma comovente carta de agradecimento e despedida ao seu marido, Leonard Woolf – encheu os bolsos de seu casaco de pedras e se jogou no Rio Ouse, afogando-se. Seu corpo só foi encontrado três semanas depois.
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- Sylvia Plath (1932 -1963)
Embora autora de diversos poemas, Sylvia Plath tornou-se bastante conhecida após a publicação de seu único romance em prosa, A Redoma de Vidro, de 1963, ano de sua morte. Após algumas tentativas mal sucedidas de suicídio na juventude, Sylvia conhece o também poeta Ted Hughes, com quem ela casa em 1955. Com a descoberta de que seu marido possuía uma relação extraconjugal, Sylvia o abandona e decide morar sozinha em Londres com seus dois filhos pequenos. Em 1963, Sylvia toma uma quantidade excessiva de narcóticos, colocando em seguida sua cabeça dentro do forno com o gás ligado, morrendo pouco depois. Antes ela teve o cuidado de vedar o quarto de seus filhos com pano molhado e mantimentos perto de suas camas, além de deixar a janela aberta. O corpo só foi encontrado no dia seguinte com a chegada da enfermeira contratada pela escritora. Em 2009, seu filho Nicholas, também vítima de depressão, comete suicídio enforcando-se em sua casa.
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- Camilo Castelo Branco (1825 – 1890)
Foi um dos principais escritores de língua portuguesa. Criador de mais de duzentas e sessenta obras, entre elas Amor de Perdição (1862), Camilo Castelo Branco era considerado um escritor predominantemente da escola romântica, embora o mesmo enveredasse por outros estilos literários. Sofrendo de vários problemas na visão a partir de 1865, o que foi impedindo-o aos poucos de trabalhar em seus livros, o escritor, desesperado, começou a alimentar pensamentos suicidas. Mesmo procurando os melhores médicos da área e após a visita de um famoso oftalmologista em sua residência que, após examinar seus olhos e lhe recomendar descanso – antes mesmo da saída do médico – Camilo Castelo Branco, completamente desesperançoso de sua cura, desferiu um tiro de revolver em sua têmpora direita, falecendo horas depois.
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- Ernest Hemingway (1899 – 1961)
Escritor norte-americano. Foi vencedor do premio Pulitzer de Ficção em 1953 e do Nobel de Literatura de 1954. Reconhecido mundialmente por clássicos como O Sol se Levanta (1926), Por que os Sinos Dobram (1940) e O Velho e o Mar (1952), Hemingway sempre retratou o tema suicídio em seus escritos. Aos 61 anos e portador de problemas como depressão, amnésia, diabetes e hipertensão, o autor colocou um fuzil dentro da boca e disparou, tirando a própria vida.
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- Horácio Quiroga (1879 – 1937)
Possivelmente uma das histórias mais trágicas desta lista. Horácio Quiroga foi um grande escritor uruguaio que tornou-se muito conhecido, principalmente, após a publicação de Contos de Amor de Loucura e de Morte (sem vírgula), de 1917. Desde muito cedo o suicídio fez parte de sua vida. Quando criança, seu pai matou-se acidentalmente com um tiro de escopeta. Anos depois, seu padrasto suicidou-se em sua frente. Em 1902, Quiroga mata, acidentalmente, seu melhor amigo também com um tiro de escopeta. Em 1915 sua primeira esposa também suicidou-se após ingerir água sanitária. Em 1937, após a descoberta de um câncer de próstata e com o agravamento das crises de depressão, Quiroga põe fim a sua própria vida ingerindo cianureto. Anos depois três de seus filhos também cometeram suicídio.
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- Yasunari Kawabata (1899 – 1972)
Primeiro escritor japonês a receber o premio Nobel de Literatura em 1968. O romance que alavancou a carreira de Kawabata como escritor, inserindo-o entre os principais e mais importantes escritores japoneses foi O País das Neves, de 1937. Com apenas quatro anos tornou-se órfão de pai e mãe e, com apenas quatorze anos, já tinha perdido a irmã mais velha, seu avô e sua avó. Em seu discurso de posse do Nobel de 1968, Kawabata condenou o suicídio, porém, em 1972, após um acesso de depressão, suicidou-se em sua casa intoxicado com gás.
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- Yukio Mishima (1925 – 1970)
Escritor japonês que tornou-se mundialmente conhecido após a publicação dos romances Cores Proibidas (1953) e O Templo do Pavilhão Dourado (1956). Mishima ganhou fama e notoriedade, chegando a concorrer a três prêmios Nobel de Literatura e, graças à ajuda e influência de seu amigo, o também escritor Yasunari Kawabata, foi inserido nos principais círculos literários japoneses na década de 1940. Após tornar-se um líder político de extrema direita – que defendia o retorno do nacionalismo e dos valores milenares da cultura japonesa – Mishima, que era totalmente comprometido com o código de honra e conduta samurai, após uma tentativa fracassada de golpe de estado, comete o seppuku, rasgando o próprio ventre com um sabre e sendo degolado, logo em seguida e com seu consentimento prévio, por um de seus discípulos.
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- Vladimir Maiakovski (1893 – 1930)
Considerado por Stalin como “o melhor e mais talentoso poeta de nossa época soviética”, Maiakovski, além de poeta, era também dramaturgo e forte militante do Partido Comunista. Escreveu a primeira poesia quando esteve preso numa solitária, em 1909. Passou a sofrer de depressão após ter seu visto negado para viajar para o exterior e ter se tornado um fanático partidário. Após a conclusão do poema A Pleno Pulmões e de ter alertado sua esposa do agravamento da depressão, Maiakovski suicidou-se em sua casa, em Moscou, dando um tiro no peito.
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- Ana Cristina César (1952 – 1983)
Poetisa, ensaísta e tradutora brasileira. Ana Cristina César foi uma das principais representantes do movimento intitulado Poesia Marginal. De formação cristã, trabalhou como professora de português e inglês e traduziu diversos trabalhos, inclusive da poetisa americana Sylvia Path. Escreveu para jornais e revistas de grande circulação no Brasil, como o Jornal do Brasil, Correio Brasiliense, Folha de S. Paulo, Istoé e Veja. Sofrendo de depressão devido ao fim de um relacionamento homossexual, Ana Cristina César, então com 31 anos, atirou-se do sétimo andar do apartamento de seus pais, no Rio de Janeiro.
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- David Foster Wallace (1962 – 2008)
Romancista, contista e ensaísta americano. Formou-se em Letras e Filosofia e, em 1992, ganhou uma cadeira no Departamento de Letras da Universidade de Illinois. Em 1996 publicou seu magnum opus, Graça Infinita, o que alavancou sua carreira como romancista. Wallace era considerado pelos críticos como um dos poucos romancistas que conseguia captar a voz de seu tempo, considerando-o como um representante do pós-modernismo literário. Sofrendo de depressão durante vinte anos, Wallace pôs fim ao seu sofrimento enforcando-se no pátio de sua casa, em Claremont, na California.
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- John Kennedy Toole (1937 – 1969)
Romancista norte-americano que teve seu reconhecimento literário de forma tardia, após sua morte. Enquanto em vida Toole não teve nenhum de seus romances publicados. O escritor viu sua vida ruir quando recebeu uma resposta negativa de um grande editor à publicação de seu romance Uma Confraria de Tolos, publicado postumamente na década de 1980. Na verdade, Toole se recusava a reorganizar seu romance a pedido do editor. Esse fato foi suficiente para ele entrar em colapso nervoso, tornando-se uma pessoa altamente deprimida e paranoica. Toole foi encontrado morto dentro de seu carro – dois meses depois de desaparecido – intoxicado pela inalação de monóxido de carbono. Sua obra só foi publicada anos depois, graças aos esforços de sua mãe e vendeu mais de um milhão de exemplares, ganhando o Premio Pulitzer e tornando objeto cult da literatura.
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