Resenha: Os Sofrimentos do Jovem Werther – Goethe

2016-08-30 22.57.55

Por Jonatas Brito


Despedi-me de Carlota e lhe protestei que ainda a tornaria a ver no mesmo dia. Cumpri a minha palavra; e desde aquele momento o sol, a lua, as estrelas, podem fazer tranquilamente suas revoluções; eu não sei se é dia ou noite, todo o universo desaparece aos meus olhos.

É impossível compreender a magnitude deste clássico romance alemão sem conhecermos o contexto histórico e o movimento literário do qual ele fez parte. Do contrário, muitos o considerarão (e consideram, infelizmente) como um simples romance melodramático de um amor não correspondido e com final exageradamente trágico. Muito mais que isso, obviamente, Os Sofrimentos do Jovem Werther foi um divisor de águas na cultura e na ideologia do povo europeu em meados do século XVIII.

Embora tenha durado cerca de vinte anos (1760 – 1780), o movimento denominado “Sturm und Drang” (Tempestade e Ímpeto, em português) deixou grandes marcas, principalmente, na literatura e na música. Ele nasceu em oposição aos movimentos iluministas e racionalistas que estavam se proliferando na Europa e, principalmente, na Alemanha. Enquanto os racionalistas e classicistas franceses pregavam a razão como o viés norteador das ações humanas, os stürmer (assim denominados os adeptos do novo movimento) defendiam o homem como um ser dominado pelas emoções, regidos pelos sentimentos e desejos do coração. As obras produzidas nessa época foram cruciais para solidificar os ideais do Romantismo (iniciando assim esse novo movimento literário) por toda a Europa, cujas características principais eram a supervalorização do amor e idealização da mulher.

fullsize

Sendo assim, em 1774, um jovem alemão de apenas vinte e cinco anos destacou-se ao publicar a obra que seria conhecida como a precursora do romantismo europeu. Seu nome era Johann Wolfgang von Goethe (1749 – 1832) e sua belíssima criação intitulada Os Sofrimentos do Jovem Werther.

Goethe em 1828, pintura de Joseph Karl Stieler

Goethe em 1828, pintura de Joseph Karl Stieler

Trata-se de um romance epistolar, uma coletânea de cartas que o protagonista por nome Werther envia para seu amigo e confidente Guilherme. Essas cartas irão retratar toda a frustração amorosa de Werther para com sua amada Carlota, culminando em um fim trágico. Sua narrativa é unilateral, um monólogo, visto que o leitor não tem acesso às respostas de Guilherme, embora esteja implícito que o mesmo se correspondia com Werther com frequência. Apenas no final que há uma interrupção do narrador para situar-nos do trágico destino de nosso protagonista.

Werther, inicialmente, viaja para uma pequena cidade a fim de cuidar dos negócios da família. Encantado com a natureza do lugar, suas primeiras cartas resumem-se ao vislumbre de sua nova moradia, as pessoas e ao clima amistoso e jovial da cidade. Tudo perde seu brilho, enfim, quando Werther conhece Carlota, uma jovem donzela já prometida em casamento para Alberto. O que era admiração virou paixão; o que era paixão tornou-se obsessão. Nosso protagonista não consegue pensar em mais nada, em mais ninguém. Tudo se resume a Carlota. Em suas cartas, outrora repleta de esperanças, alegrias e descobertas; Werther destila para seu amigo Guilherme toda sua angústia, tristeza e desilusão por não poder possuí-la. O que antes era primavera e verão, tornou-se outono e inverno. Não suportando ver sua amada nos braços de outro, Werther decide mudar-se temporariamente de cidade, mas, ao retornar, Carlota e Alberto já estão casados, fato que agrava mais ainda sua já fragilizada alma perdida.

Interessante observarmos que Alberto em momento algum assume o papel de vilão ou antagonista da história. O próprio Werther nutre por ele uma profunda e sincera admiração. O que notamos é um homem lutando contra os anseios de seu próprio coração enganoso. Um homem mergulhado em sentimentos e sensações contrárias à razão por cobiçar uma mulher casada e inacessível. Completamente egocêntrico, individualista e egoísta, Werther decide pôr fim ao seu sofrimento da pior – embora para ele, única – forma possível: tirando sua própria vida.

Quando de sua publicação, o romance tornou-se viral entre os jovens da época. Não era difícil encontrar pelas ruas homens vestidos tal qual Werther, mas, o que aparentemente era considerado apenas uma inocente admiração tornou-se caso de polícia quando foi constatado um crescente e considerável aumento das taxas de suicídios por toda Europa. Esses casos foram atribuídos à possível influência negativa do romance de Goethe nos jovens amantes do século XVIII (visto que os corpos eram encontrados com um exemplar do livro em seus bolsos), o que contribuiu para que sua obra prima fosse proibida em diversos países. Essa onda de suicídios recebeu o nome de Efeito-Werther.

werther-sofrimentos-thumb-600x454-29723 © AKGOutra curiosidade que cerca tal obra é o forte indício de tratar-se de um romance autobiográfico.  Tal como Werther, o jovem Goethe também apaixonou-se por uma mulher de nome Charlotte que estava prometida em casamento a um grande amigo seu. Ciente que não poderia concretizar seu sonho, ele decide mudar de cidade. Como se não bastasse, Goethe também possuía outro amigo, Karl Wilhelm Jerusalem que, também apaixonado por uma mulher casada, decidiu pôr fim a própria vida com um tiro fatal na cabeça. Mesmo discordando do destino de Werther, em alguns momentos nos identificamos com ele. Para que já viveu um grande amor, é fácil sentir empatia pelo nosso trágico personagem.

Os Sofrimentos do Jovem Werther” é leitura obrigatória para aprendermos um pouco mais sobre esse importante movimento literário, o Romantismo. Finalmente, podemos resumir essa importante obra em uma célebre frase atribuída ao grande físico e filósofo francês Blaise Pascal: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”.

Adquira um exemplar do livro em preços promocionais clicando aqui.

Título: Os Sofrimentos do Jovem Werther
Autor: Johann Wolfgang von Goethe
Editora: Hedra
Ano: 2006
Páginas: 168

11 comentários sobre “Resenha: Os Sofrimentos do Jovem Werther – Goethe

  1. Estou acabando de ler hoje este livro.

    O livro é capturante: ficamos aprisionados em sua leitura.
    No meu entender, ao lermos hoje, parte dos leitores entenderá o sofrimento de Werther com ironia, descaso ou exagero inadmissível.

    É romântico demais, é muito exagerado. Uma paixão talvez juvenil, descomunal.

    Contudo, parece-me que é da natureza humana sofrermos em demasia por algum ´´paraíso perdido´´ em algum momento de nossas vidas.
    Neste sentido o livro nos leva a refletir o quanto de exagero descabido podemos estar dando ao nosso sofrimento.
    E ponderar com outras balanças e réguas nosso sofrer.

    Curtido por 1 pessoa

  2. Pingback: Resenha: Gente Pobre – Fiódor Dostoiévski | garimpo literário

Deixe um comentário